quinta-feira, 17 de julho de 2014

(in)dependência

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Gosto de pássaros, de todo o tipo, desde que voem. Meu animal preferido é a águia, tem penas lindas, voa alto, vive sozinha, é esperta e observadora. Se pudesse, passaria horas vendo o bater silencioso e encantador das asas de uma borboleta. Borboletas são pequenas, indefesas e, na maioria das vezes, coloridas e alegres, mesmo vivendo por um curto tempo. Águias e borboletas tem quilômetros de diferença, uma é forte e predadora, cuida de si mesma, outra é inofensiva e delicada, embora também viva sozinha. Essa é a razão do meu grande fascínio por ambos os bichos; os dois tem asas, asas, para mim, são uma metáfora para liberdade.
Uma garota de 14 anos falando sobre algo nesse nível, não passo de uma criança achando que pode usar salto alto. Eu sei, compreendo o pensamento de vocês que estão lendo isso, ''Mas que diachos essa menina acha que sabe da vida?'', e sei que daqui á 10 anos, talvez até 10 meses ou semanas, vou ler esse texto e pensar a mesma coisa. E, só para constar, amanhã completo 14,5 anos.
Qualquer garota na minha idade dorme pensando em como quer sair de casa, traçar seu próprio caminho, se sustentar, fazer aquilo que não podiam fazer sob o teto dos pais, viajar pelo mundo ou ter sua casa própria. Eu não vou dizer que sou diferente. Desde sempre sonho em sair de casa, não por não gostar dela ou da minha família, muito pelo contrário, a amo muito, porém sempre tem aquele alguém para dizer "faça isso.", "isso tá errado.", "mãe, a Mariana me bateu e não deixa eu entrar no quarto dela.". Já pensou em um lugar onde ninguém vai falar nada assim? Um lugar onde você não terá que obedecer ninguém, onde você faz seus horários, põe o som no último volume para toda a vizinhança ouvir sua quote preferida daquele filme que assistiu 12123142425 vezes, pode saltitar pela casa só de meia e pijama o dia inteiro que não vão dizer "vai vestir uma roupa, menina!". Ser independente para mim sempre foi isso: fazer suas próprias regras. Nada a mais, nunca me preocupei com contas, com o dinheiro que faltaria no final do mês, em lavar minha calça preferida.
Agora, faltando (se Deus quiser) meses para eu morar fora, não consigo esconder a insegurança. Cada vez tenho mais certeza de que, sem essa pessoa que me manda lavar a louça que sujei, chegará a noite com mundos de pratos na pia. Sem alguém para me repreender e falar as horas que eu tenho que voltar, para onde não posso ir, o que não devo vestir, eu acabe me perdendo. Possivelmente me dei conta do meu 'verdadeiro' significado de ser independente tarde. Ou cedo, depende do ponto de vista. Como foi? Bem, nada interessante. Gasto minhas tarde estudando para uma prova que me tirará da minha aconchegante casa e do meu quarto perfeitamente arrumado, chego em casa morrendo de sono e, antes de sair, minha mãe me deixa um único aviso: ficar de olho na janta que está no fogão.
Quem disse que me lembrei? Meia hora depois ouço um som estranho sobre a música e um cheiro de carne queimada. Se não consigo ficar de olho em uma linguiça na panela, tenho medo de saber como ficarei em duas semanas vivendo longe de casa. Acima de tudo, tenho certeza que eu não sabia o que era ser independente meia hora atrás, absolutamente não sei o que é agora, provavelmente não saberei daqui á 8 meses, muito menos daqui á 8 anos, talvez, nunca saiba. Cheguei a conclusão de que ser independente não é se sustentar, saber cozinhar, cuidar de si mesmo, muito menos dar a volta na América do Sul  montada em uma Harley Davidson Street 750 como fantasiei milhares de vezes. Não faço a mínima ideia do que acreditarei quando reler esse texto, mas nesse momento, penso que 'independência' é só mais uma palavra entre tantas no nosso vocabulário, uma palavra sem definição, algo que só existe em nossas cabeças, uma coisa que você nunca poderá pegar, ter ou ver. Porque, no final das contas, você dependeu de mim para ler essa baboseira toda, também dependeu da internet, a internet dependeu da energia elétrica para existir, a energia dependeu de  Benjamin Franklin para ser descoberta, acima de tudo, eu dependi de uma linguiça queimada para resolver rever meu conceito sobre esse palavrão (no sentido de tamanho, claro), e não é uma das coisas mais legais do mundo você contar que é dependente de um pedaço de tripa de porco.
O que eu quero dizer é que você nunca será totalmente independente, é como pedir á um pinguim que ele voe; ele não nasceu para voar, não tem essa necessidade, logo não quer voar pois está satisfeito do jeito que é. Sendo assim, porque eu, você e o Papa seremos independentes se gostamos de ter pessoas ao nosso redor, ainda mais quando essas pessoas nos fazem sorrir. O amor é a maior dependência e a mais difícil - e impossível - de eliminar.
Agora vou esperar aquela mulher de quem mais dependo para ver o que fazer em relação á minha comida, afinal, a maioria dos pássaros ficam desorientados sem seu bando.






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